quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O PANTEÃO AFRO-BRASILEIRO


Os orixás mais cultuados em São Paulo, como no resto do país, são

cerca de dezesseis. Suas cores, sacrifícios, os elementos a que estão

associados podem variar aqui e ali, de casa para casa e de nação para nação,

mas os traços principais já se mostram bastante fixados. Vejamos um pouco

de cada um deles.

EXU. É o orixá mensageiro; nada se faz sem ele e ele nada faz sem

cobrar a sua parte. É também o guardião da porta da rua e o dono das

encruzilhadas. É desprovido de qualquer senso de moralidade no sentido

ocidental. , é vestido nas cores azul-escuro e vermelho, trazendo na mão

um ogó, bastão fálico. Todas as cerimônias começam com uma louvação

prévia a Exu. A ele são sacrificados bode e galo . Também “come”

farofa, pipoca, feijão, inhame, e “bebe” mel, dendê, vários tipos de aguardente.

Suas principais qualidades (invocações, avatares) no queto são: Iangui (o da

porta), Ijelu, Agbbô, Inã (do fogo), Odara (do feitiço), Elebó, Enuquebarijó

(o multiplicador), Eleru, Onã ou Lonã, Aqueçã, Barabô (primeira qualidade

a ser louvada em qualquer terreiro do Brasil e em Cuba);

na angola é chamado Tiriri, Lembá, Nilê, Cariapemba; no jeje: Elegu , Bara, Lalu. Seu dia é segundafeira

e sua saudação Laroiê!

OGUM. É o deus do ferro, da guerra e da tecnologia. Patrono dos

ferreiros, engenheiros e militares. Seu dia é terça feira, veste azul escuro,

verde, vermelho e amarelo. Gosta de receber , bode, boi, galo, ( na África, cachorro) Sua “comidas secas” prediletas são a feijoada, o xinxim, acarajé, milho branco. Dança com espada e enrrola-se

em mariô (folha nova do dendezeiro desfiada).

Suas qualidade no queto: Ogunjá, Mejê, Onirê, Alacorô, Aiacá, Oromina, Xoroquê (que é metade

Exu), Menê e Igbô;

a angola: Incôssi, Incossimucumbi e Roximucumbi;

no jeje: Gun. Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge, é saudado com o

grito Ogunhê Patacori!

OXÓSSI. É um dos muitos deuses caçadores (Odés) na África. Foi

importante na cidade de Queto (hoje na República do Benin) onde está

quase esquecido, mas é praticamente o grande patrono do candomblé

brasileiro. É protetor dos caçadores, dos chefes de família, e protetor dos

animais que vivem no mato e nas florestas. Seus filhos do queto usam

contas de louça azul turquesa, os do angola, verde leitoso. Suas roupas

levam essas cores e o vermelho. Dança segurando o ofá, um adereço em

forma de arco e fecha. Seus sacrifícios são o boi (ou pelo menos a cabeça do

boi), cabrito, porco, coelho, anta, capivara e as aves galo, conquém e caça de

pena. Come também milho branco, acaça, milho amarelo e coco, peixe de

escamas, arroz, feijão, dendê, mel de milho. É louvado às quintas-feiras

Principais qualidades no queto: Arolê, Aquerã, Oréluerê, Obalojé, Olodé, Erinlé,Osseeuê, Otim (que no batuque gaúcho e na África é um orixá independente, sendo no Rio Grande do Sul a esposa de Oxóssi);

na angola: Ebualama (originalmente um nome do orixá Erinlé), Mutacuzâmbi, Mozâmbi, Mutacalombo, Mutalê; no jeje é chamado Aguê.

Sua saudação é Oquê Arô!

OSSAIM: Orixá das folhas, ervas, vegetação. Dono da medicina,

patrono da ecologia. Toda manipulação de objetos sagrados se faz com

banhos prévios de infusões consagradas através do culto a Ossaim. , veste-se de branco e verde claro e suas contas são de louça branca rajadas de verde. Come carneiro, galo, pato, cágado além de milho branco,

acaçá, arroz, feijão, milho vermelho, farofa e dendê. É chamado Catendê na

angola, podendo ser também feminino, Ossanha, e é Agué no jeje.

Sincretizado com Santo Onofre, dizem ter uma perna só, podendo se

manifestar no mato como o Saci Pererê. Seu dia é quinta feira e sua

saudação, Euê Aça!

OXUMARÊ. Deus do arco-íris, transportador de água entre o céu

(orum) e a terra (aiê), é a cobra Dã dos jejes. Veste-se de azul claro e verde

claro, dançando com uma cobra de metal em cada mão. Seus devotos usam

colares de contas leitosas amarelas e verdes alternadas ou riscadas. Recebe

em sacrifício bode, galo, conquém e tatu e, como comidas secas, milho

branco, acarajé, coco, mel, feijão, ovos e dendê.

No queto é invocado como Dã, Dangbé, Bessém, Aidôu; no jeje como Dã e Bessém e na angola como

Angorô. É originalmente um vodum jeje incorporado ainda na África ao

panteão de orixás. Sincretiza-se com São Bartolomeu, seu dia é a segundafeira

e sua saudação, Arrumboboi!

OMOLU ou OBALUAIÊ. Também chamado Xapanã e Sapatá , também

de origem jeje, é o deus da varíola, da peste, das doenças da pele e hoje em

dia da Aids. Suas cores são o vermelho, o amarelo e o preto, que veste sob

capuz e cobertas de palha-da-costa enfeitados com búzios. Seus colares são

também de búzios e de contas de marrom ou vermelhas risadinhas de

preto. Dança portando um instrumento denominado xaxará, espécie de

vassoura ou cetro. Homenageado às segundas feiras. Come porco, bode, galo, conquém,

assim como pipoca e comidas preparadas com muito dendê.

Suas qualidades no queto são: Jagum (senhor da morte), Ajacá, Afomã, Xaponã,

Ibonã, Etetu, Icorô e Alan”;

no jeje é chamado Airoso, Aduano, Sapatá ,

Xamponã; e na angola, Cavungo, Quicongo e Cabalanguange. Seu dia é

segunda feira e sua salva é Atotô!

IROCO. É o santo cultuado na gameleira branca, o inquice Tempo do angola e o vodum Loko dos jejes. A ele

se sacrificam o bode, o galo e a conquém. Suas comidas secas são acarajé,

feijão e caruru. Suas cores são o verde escuro e o vermelho; um orixá de culto muito restrito e

pouco compreendido, tal como Apaocá, o orixá da jaqueira.

XANGÔ. Foi rei de Oió; é orixá evemérico. Deus do trovão e da

justiça, protege os advogados, burocratas e juízes. Usa roupa branca e

vermelha, e coroa na cabeça, pois é rei. Seu fio de contas se faz com essas

cores, alternadas. Dança com o machado duplo na mão (oxé) e é dono de

um instrumento musical usado só para ele: o xere, chocalho de latão. Seus

bichos favoritos são o carneiro, o cágado e as aves galo e pato. Adora quiabo

com camarão seco e dendê, além de arroz, feijão e farofa. A quarta-feira é o

seu dia. . Suas qualidades no queto são: Airá (o Xangô branco), Alacorô,

Aganju, Afonjá , Dadá, Ogodô, Ocacossô, Balu, Inquil , Ossi, Igbon e

Olugbé; no jeje, Badé, Queviossô e Zamadono; na angola, Zázi, Inzázi,

Luango e Quibuco. Sua saudação, Cauô Cabiecieli!

OXUM. Na África Oxum é o orixá do rio Oxum. Aqui é a deusa das

águas doces (rios, fontes e lagos). É também a deusa do ouro, da

fecundidade, do jogo de búzios e do amor. Veste amarelo, dourado, rosa e

azul claro. Seus fiéis usam colares de contas de vidro amarelo claro ou

escuro ou de louça amarelo claro, dependendo da qualidade. Dança com um

espelho-leque na mão, o abebê, e pode usar espada, quando qualidade

guerreira. É a segunda (e a mais amada) esposa de Xangô. Seu dia é sábado

Recebe em sacrifício cabra, galinha,pomba, conquém e peixes de água doce.

Gosta também de milho branco,
feijão fradinho, mel e ovos.
São qualidades de Oxum no queto: Apará e
Ipondá (as guerreiras que usam espada), Iaomi, Iabotô, Ajagurá,

Ipetu, Euji,
Ossobô, Igemu (a velha feiticeira), Oloquê, Iaogá (regente da menopausa),

Ieiê-Odô (Oxum menina) e Carê (a Oxum do ouro); no jeje é chamada

Aziritoboce, Navê, Vó Missã; na angola, Quissambo, Quissambê e Danda.

Saúde Oxum gritando Ora Ieiê ô!

LOGUN-E. É um orixá filho de Oxum Ipondá com Erinlé (confundido no Brasil com Oxóssi). Assim, é metade Oxóssi e metade Oxum. Suas contas intercalam o azul com o amarelo translúcido; usa azul e

amarelo, come animais fêmeas e machos (da Oxum e de Oxóssi), vive parte

do tempo na água e parte no mato. No queto é chamado de Ocurin, Ojongolô e Socotô; no jeje é Bosso Jara e na angola um Ibualama, que gosta de “comer” faisão. Seu grito é Logun!

Oou IANSÃ. Senhora dos ventos e das tempestades, dona do raio, esposa principal de Xangô, dona das almas

dos mortos (eguns). Seu dia é sábado, usa roupa marrom escuro e vermelha e às vezes branca. Leva

espada e rabo de cavalo (eruxin, símbolo de realeza). O colar de seus filhos é

de contas marrom escuro. Come cabra e galinha, milho branco, arroz, feijão,

dendê e acarajé. No queto, as seguintes invocações: Iá Meçã, Iá Petu, Onirá (mulher de Xangô), Odô, Oiá Igbé, Oiá Topé e Oiá Igbalé (a Iansã das almas, Iansã-Balé)). No jeje é Calé e Sobô e na angola, Ialodê e Bomburocema. Seu grito, Eparrei!

O. Orixá do rio Obá, foi esposa de Xangô. Seus filhos usam contas

de vidro vermelho escuro e lhe oferecem cabra, galinha e conquém, além de

acarajé, farofa de dendê e ovos. Veste-se de branco e vermelho. Seu dia é

sábado. É protetora das cozinheiras e serviçais domésticos. A vezes é considerada

uma qualidade de Oxum. Seu grito, Obaxirê!

E. Orixá do rio Euá, é confusamente associada a Oxumarê, veste-se

de rosa e azul claro, come cabra e pomba, milho branco, camarão, arroz e

dendê. Ao dançar usa arpão e espada. No Brasil aparece como orixá das

minas de água e em Cuba é considerada a mãe de Nanã, deusa da lama

primordial criada junto ao olho d’água que é Eu . O colar de seus iniciados é

de contas de vidro verde escuro. É cultuada no jeje com o mesmo nome e

na angola é considerada qualidade de Oxum. Comemorada aos sábados, sua saudação é Rirró!

NANÃ. Também chamada Buruku, é de origem jeje. Dona da lama do

fundo dos rios, lama com qual foram modelados os homens. Forma com

Oxumarê e Omulu uma família, da qual dizem ser a mãe. É o orixá

feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se

de branco e azul ou lilás. Suas contas são de louça branca com riscos azuis e

vermelhos. Traz na mão o ibiri, seu cetro. Come cabra, galinha conquém e

rã. Dentre as comida secas, prefere milho branco, arroz, inhame, feijão, mel

e azeite.

Suas qualidades no queto são: Iabaim, Obá-Iá, Ajaoci (dona da chuva) e Adjapá (a que não teme a morte). É protetora dos enfermos

desenganados e patrona dos professores. . Festejada no sábado, saúde-a com a expressão Saluba!

IEMANJÁ. Deusa do rio Níger, no Novo Mundo tomou o lugar de Olocum (o orixá do mar na África) e ficou sendo

a dona dos mares e oceanos. É considerada a mãe dos orixás (embora se trate de mito de criação

recente) e com certeza é o orixá mais festejado no Brasil, especialmente por sua importância no calendário ritual da umbanda. Iemanjá veste branco e azul e as contas de seus filhos são de vidro verde claro, transparente, ou azul

claro. Para ela sacrifica-se cabra, porca, galinha, pata, cágado. Come também peixes de escamas e frutos do mar, arroz, milho, camarão seco, coco e mel. Seu dia é sábado Tal como Senhora da Aparecida, Iemanjá é a padroeira do Brasil.

Suas qualidades no queto são: Ogunté, Sabá , Aoiô, Ataramabá, Iamiodô, Sessu, Acurá, Maialeuó e Conlá. No jeje é chamada de Abê e Aziri e, na angola, Quicimbi e Dandalunda. Odô Iá! é sua saudação.

OXALÁ. É o orixá da criação e faz parte dos orixás denominados funfun, isto é, brancos, ou que se vestem de branco. Oxalá é o deus criador do homem e da cultura material. No Brasil tem o status de pai dos orixás e

senhor supremo. Seu dia é sexta-feira, quando se costuma usar roupa branca para homenageá-lo. Suas contas são igualmente brancas, de louça, mas os filhos da qualidade Oxaguiã usam umas poucas contas azuis a cada

seqüência de contas brancas. Não gosta nem de sangue, nem de dendê.

Oxalá, ou Orixalá, prefere o sacrifício do caracol catassol (ibim), mas na

falta deste aceita sacrifício de cabra, galinha, pomba e pata, sempre de cor

branca. Sua comida seca predileta é insossa: arroz e milho branco sem

tempero e inhame pilado, mas também gosta de mel.

Suas qualidades no queto são: Oxalufã, o Senhor do Bonfim (tão velho e lento que para se

mover apóia-se num bastão denominado opaxorô); Lagbacê, aquele que é o

princípio da fecundação, o esperma; os jovens Oxaguiã e Ajagunã, guerreiros que lutam, e Olemoçô, o guerreiro

que comanda. E o Oxalá mais idoso, Obatalá , o branco essencial que é o

princípio de tudo e é o nada. No jeje é invocado como Lissá e na angola como Fururu, o mais velho, Emaculunga, Lacarenganga e Guiã e Lembá , o mais jovem. É saudado com os brados Epa Babá! Xêuê Babá!

Quando um destes orixás for identificado pelo pai ou mãe-de-santo, no

jogo de búzios, como o nosso orixá, ele passará a ser o nosso deus particular,

nosso deus individual. Nosso orixá particular será parte do orixá geral,

subdividido em suas múltiplas formas, qualidades, avatares, caminhos. Um

dia, quando morrermos, esse nosso orixá particular voltará ao orixá geral,

matriz do todo, composição da divindade da qual o homem é parte. E

deverá voltar ao orixá geral acrescentando a este a força vital que nós,

enquanto humanos, temos o dever religioso, a obrigação doutrinária

preceitual de acumular em nossa relação de equilíbrio espiritual com o

mundo. A fórmula para se chegar a esse equilíbrio é ser feliz, não ser

derrotado nunca, não sofrer perdas materiais. Tudo isso deve ser feito

enquanto estamos vivos. Depois da morte, seremos o que fomos e nada

mais, não importa.E não pode existir equilíbrio sem o culto ao orixá, pois somos uma

infinitésima parte dele.

Pesquisa: Verger, Bastide e outros autores

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