Os orixás mais cultuados em São Paulo, como no resto do país, são
cerca de dezesseis. Suas cores, sacrifícios, os elementos a que estão
associados podem variar aqui e ali, de casa para casa e de nação para nação,
mas os traços principais já se mostram bastante fixados. Vejamos um pouco
de cada um deles.
EXU. É o orixá mensageiro; nada se faz sem ele e ele nada faz sem
cobrar a sua parte. É também o guardião da porta da rua e o dono das
encruzilhadas. É desprovido de qualquer senso de moralidade no sentido
ocidental. , é vestido nas cores azul-escuro e vermelho, trazendo na mão
um ogó, bastão fálico. Todas as cerimônias começam com uma louvação
prévia a Exu. A ele são sacrificados bode e galo . Também “come”
farofa, pipoca, feijão, inhame, e “bebe” mel, dendê, vários tipos de aguardente.
Suas principais qualidades (invocações, avatares) no queto são: Iangui (o da
porta), Ijelu, Agbbô, Inã (do fogo), Odara (do feitiço), Elebó, Enuquebarijó
(o multiplicador), Eleru, Onã ou Lonã, Aqueçã, Barabô (primeira qualidade
a ser louvada em qualquer terreiro do Brasil e em Cuba);
na angola é chamado Tiriri, Lembá, Nilê, Cariapemba; no jeje: Elegu , Bara, Lalu. Seu dia é segundafeira
e sua saudação Laroiê!
OGUM. É o deus do ferro, da guerra e da tecnologia. Patrono dos
ferreiros, engenheiros e militares. Seu dia é terça feira, veste azul escuro,
verde, vermelho e amarelo. Gosta de receber , bode, boi, galo, ( na África, cachorro) Sua “comidas secas” prediletas são a feijoada, o xinxim, acarajé, milho branco. Dança com espada e enrrola-se
em mariô (folha nova do dendezeiro desfiada).
Suas qualidade no queto: Ogunjá, Mejê, Onirê, Alacorô, Aiacá, Oromina, Xoroquê (que é metade
Exu), Menê e Igbô;
a angola: Incôssi, Incossimucumbi e Roximucumbi;
no jeje: Gun. Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge, é saudado com o
grito Ogunhê Patacori!
OXÓSSI. É um dos muitos deuses caçadores (Odés) na África. Foi
importante na cidade de Queto (hoje na República do Benin) onde está
quase esquecido, mas é praticamente o grande patrono do candomblé
brasileiro. É protetor dos caçadores, dos chefes de família, e protetor dos
animais que vivem no mato e nas florestas. Seus filhos do queto usam
contas de louça azul turquesa, os do angola, verde leitoso. Suas roupas
levam essas cores e o vermelho. Dança segurando o ofá, um adereço em
forma de arco e fecha. Seus sacrifícios são o boi (ou pelo menos a cabeça do
boi), cabrito, porco, coelho, anta, capivara e as aves galo, conquém e caça de
pena. Come também milho branco, acaça, milho amarelo e coco, peixe de
escamas, arroz, feijão, dendê, mel de milho. É louvado às quintas-feiras
Principais qualidades no queto: Arolê, Aquerã, Oréluerê, Obalojé, Olodé, Erinlé,Osseeuê, Otim (que no batuque gaúcho e na África é um orixá independente, sendo no Rio Grande do Sul a esposa de Oxóssi);
na angola: Ebualama (originalmente um nome do orixá Erinlé), Mutacuzâmbi, Mozâmbi, Mutacalombo, Mutalê; no jeje é chamado Aguê.
Sua saudação é Oquê Arô!
OSSAIM: Orixá das folhas, ervas, vegetação. Dono da medicina,
patrono da ecologia. Toda manipulação de objetos sagrados se faz com
banhos prévios de infusões consagradas através do culto a Ossaim. , veste-se de branco e verde claro e suas contas são de louça branca rajadas de verde. Come carneiro, galo, pato, cágado além de milho branco,
acaçá, arroz, feijão, milho vermelho, farofa e dendê. É chamado Catendê na
angola, podendo ser também feminino, Ossanha, e é Agué no jeje.
Sincretizado com Santo Onofre, dizem ter uma perna só, podendo se
manifestar no mato como o Saci Pererê. Seu dia é quinta feira e sua
saudação, Euê Aça!
OXUMARÊ. Deus do arco-íris, transportador de água entre o céu
(orum) e a terra (aiê), é a cobra Dã dos jejes. Veste-se de azul claro e verde
claro, dançando com uma cobra de metal em cada mão. Seus devotos usam
colares de contas leitosas amarelas e verdes alternadas ou riscadas. Recebe
em sacrifício bode, galo, conquém e tatu e, como comidas secas, milho
branco, acarajé, coco, mel, feijão, ovos e dendê.
No queto é invocado como Dã, Dangbé, Bessém, Aidôu; no jeje como Dã e Bessém e na angola como
Angorô. É originalmente um vodum jeje incorporado ainda na África ao
panteão de orixás. Sincretiza-se com São Bartolomeu, seu dia é a segundafeira
e sua saudação, Arrumboboi!
OMOLU ou OBALUAIÊ. Também chamado Xapanã e Sapatá , também
de origem jeje, é o deus da varíola, da peste, das doenças da pele e hoje em
dia da Aids. Suas cores são o vermelho, o amarelo e o preto, que veste sob
capuz e cobertas de palha-da-costa enfeitados com búzios. Seus colares são
também de búzios e de contas de marrom ou vermelhas risadinhas de
preto. Dança portando um instrumento denominado xaxará, espécie de
vassoura ou cetro. Homenageado às segundas feiras. Come porco, bode, galo, conquém,
assim como pipoca e comidas preparadas com muito dendê.
Suas qualidades no queto são: Jagum (senhor da morte), Ajacá, Afomã, Xaponã,
Ibonã, Etetu, Icorô e Alan”;
no jeje é chamado Airoso, Aduano, Sapatá ,
Xamponã; e na angola, Cavungo, Quicongo e Cabalanguange. Seu dia é
segunda feira e sua salva é Atotô!
IROCO. É o santo cultuado na gameleira branca, o inquice Tempo do angola e o vodum Loko dos jejes. A ele
se sacrificam o bode, o galo e a conquém. Suas comidas secas são acarajé,
feijão e caruru. Suas cores são o verde escuro e o vermelho; um orixá de culto muito restrito e
pouco compreendido, tal como Apaocá, o orixá da jaqueira.
XANGÔ. Foi rei de Oió; é orixá evemérico. Deus do trovão e da
justiça, protege os advogados, burocratas e juízes. Usa roupa branca e
vermelha, e coroa na cabeça, pois é rei. Seu fio de contas se faz com essas
cores, alternadas. Dança com o machado duplo na mão (oxé) e é dono de
um instrumento musical usado só para ele: o xere, chocalho de latão. Seus
bichos favoritos são o carneiro, o cágado e as aves galo e pato. Adora quiabo
com camarão seco e dendê, além de arroz, feijão e farofa. A quarta-feira é o
seu dia. . Suas qualidades no queto são: Airá (o Xangô branco), Alacorô,
Aganju, Afonjá , Dadá, Ogodô, Ocacossô, Balu, Inquil , Ossi, Igbon e
Olugbé; no jeje, Badé, Queviossô e Zamadono; na angola, Zázi, Inzázi,
Luango e Quibuco. Sua saudação, Cauô Cabiecieli!
OXUM. Na África Oxum é o orixá do rio Oxum. Aqui é a deusa das
águas doces (rios, fontes e lagos). É também a deusa do ouro, da
fecundidade, do jogo de búzios e do amor. Veste amarelo, dourado, rosa e
azul claro. Seus fiéis usam colares de contas de vidro amarelo claro ou
escuro ou de louça amarelo claro, dependendo da qualidade. Dança com um
espelho-leque na mão, o abebê, e pode usar espada, quando qualidade
guerreira. É a segunda (e a mais amada) esposa de Xangô. Seu dia é sábado
Recebe em sacrifício cabra, galinha,pomba, conquém e peixes de água doce.Gosta também de milho branco,feijão fradinho, mel e ovos.
São qualidades de Oxum no queto: Apará e Ipondá (as guerreiras que usam espada), Iaomi, Iabotô, Ajagurá,
Ipetu, Euji, Ossobô, Igemu (a velha feiticeira), Oloquê, Iaogá (regente da menopausa),
Ieiê-Odô (Oxum menina) e Carê (a Oxum do ouro); no jeje é chamada
Aziritoboce, Navê, Vó Missã; na angola, Quissambo, Quissambê e Danda.
Saúde Oxum gritando Ora Ieiê ô!
LOGUN-EDÉ. É um orixá filho de Oxum Ipondá com Erinlé (confundido no Brasil com Oxóssi). Assim, é metade Oxóssi e metade Oxum. Suas contas intercalam o azul com o amarelo translúcido; usa azul e
amarelo, come animais fêmeas e machos (da Oxum e de Oxóssi), vive parte
do tempo na água e parte no mato. No queto é chamado de Ocurin, Ojongolô e Socotô; no jeje é Bosso Jara e na angola um Ibualama, que gosta de “comer” faisão. Seu grito é Logun!
OIÁ ou IANSÃ. Senhora dos ventos e das tempestades, dona do raio, esposa principal de Xangô, dona das almas
dos mortos (eguns). Seu dia é sábado, usa roupa marrom escuro e vermelha e às vezes branca. Leva
espada e rabo de cavalo (eruxin, símbolo de realeza). O colar de seus filhos é
de contas marrom escuro. Come cabra e galinha, milho branco, arroz, feijão,
dendê e acarajé. No queto, as seguintes invocações: Iá Meçã, Iá Petu, Onirá (mulher de Xangô), Odô, Oiá Igbé, Oiá Topé e Oiá Igbalé (a Iansã das almas, Iansã-Balé)). No jeje é Calé e Sobô e na angola, Ialodê e Bomburocema. Seu grito, Eparrei!
OBÁ. Orixá do rio Obá, foi esposa de Xangô. Seus filhos usam contas
de vidro vermelho escuro e lhe oferecem cabra, galinha e conquém, além de
acarajé, farofa de dendê e ovos. Veste-se de branco e vermelho. Seu dia é
sábado. É protetora das cozinheiras e serviçais domésticos. A vezes é considerada
uma qualidade de Oxum. Seu grito, Obaxirê!
EUÁ. Orixá do rio Euá, é confusamente associada a Oxumarê, veste-se
de rosa e azul claro, come cabra e pomba, milho branco, camarão, arroz e
dendê. Ao dançar usa arpão e espada. No Brasil aparece como orixá das
minas de água e em Cuba é considerada a mãe de Nanã, deusa da lama
primordial criada junto ao olho d’água que é Eu . O colar de seus iniciados é
de contas de vidro verde escuro. É cultuada no jeje com o mesmo nome e
na angola é considerada qualidade de Oxum. Comemorada aos sábados, sua saudação é Rirró!
NANÃ. Também chamada Buruku, é de origem jeje. Dona da lama do
fundo dos rios, lama com qual foram modelados os homens. Forma com
Oxumarê e Omulu uma família, da qual dizem ser a mãe. É o orixá
feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se
de branco e azul ou lilás. Suas contas são de louça branca com riscos azuis e
vermelhos. Traz na mão o ibiri, seu cetro. Come cabra, galinha conquém e
rã. Dentre as comida secas, prefere milho branco, arroz, inhame, feijão, mel
e azeite.
Suas qualidades no queto são: Iabaim, Obá-Iá, Ajaoci (dona da chuva) e Adjapá (a que não teme a morte). É protetora dos enfermos
desenganados e patrona dos professores. . Festejada no sábado, saúde-a com a expressão Saluba!
IEMANJÁ. Deusa do rio Níger, no Novo Mundo tomou o lugar de Olocum (o orixá do mar na África) e ficou sendo
a dona dos mares e oceanos. É considerada a mãe dos orixás (embora se trate de mito de criação
recente) e com certeza é o orixá mais festejado no Brasil, especialmente por sua importância no calendário ritual da umbanda. Iemanjá veste branco e azul e as contas de seus filhos são de vidro verde claro, transparente, ou azul
claro. Para ela sacrifica-se cabra, porca, galinha, pata, cágado. Come também peixes de escamas e frutos do mar, arroz, milho, camarão seco, coco e mel. Seu dia é sábado Tal como Senhora da Aparecida, Iemanjá é a padroeira do Brasil.
Suas qualidades no queto são: Ogunté, Sabá , Aoiô, Ataramabá, Iamiodô, Sessu, Acurá, Maialeuó e Conlá. No jeje é chamada de Abê e Aziri e, na angola, Quicimbi e Dandalunda. Odô Iá! é sua saudação.
OXALÁ. É o orixá da criação e faz parte dos orixás denominados funfun, isto é, brancos, ou que se vestem de branco. Oxalá é o deus criador do homem e da cultura material. No Brasil tem o status de pai dos orixás e
senhor supremo. Seu dia é sexta-feira, quando se costuma usar roupa branca para homenageá-lo. Suas contas são igualmente brancas, de louça, mas os filhos da qualidade Oxaguiã usam umas poucas contas azuis a cada
seqüência de contas brancas. Não gosta nem de sangue, nem de dendê.
Oxalá, ou Orixalá, prefere o sacrifício do caracol catassol (ibim), mas na
falta deste aceita sacrifício de cabra, galinha, pomba e pata, sempre de cor
branca. Sua comida seca predileta é insossa: arroz e milho branco sem
tempero e inhame pilado, mas também gosta de mel.
Suas qualidades no queto são: Oxalufã, o Senhor do Bonfim (tão velho e lento que para se
mover apóia-se num bastão denominado opaxorô); Lagbacê, aquele que é o
princípio da fecundação, o esperma; os jovens Oxaguiã e Ajagunã, guerreiros que lutam, e Olemoçô, o guerreiro
que comanda. E o Oxalá mais idoso, Obatalá , o branco essencial que é o
princípio de tudo e é o nada. No jeje é invocado como Lissá e na angola como Fururu, o mais velho, Emaculunga, Lacarenganga e Guiã e Lembá , o mais jovem. É saudado com os brados Epa Babá! Xêuê Babá!
Quando um destes orixás for identificado pelo pai ou mãe-de-santo, no
jogo de búzios, como o nosso orixá, ele passará a ser o nosso deus particular,
nosso deus individual. Nosso orixá particular será parte do orixá geral,
subdividido em suas múltiplas formas, qualidades, avatares, caminhos. Um
dia, quando morrermos, esse nosso orixá particular voltará ao orixá geral,
matriz do todo, composição da divindade da qual o homem é parte. E
deverá voltar ao orixá geral acrescentando a este a força vital que nós,
enquanto humanos, temos o dever religioso, a obrigação doutrinária
preceitual de acumular em nossa relação de equilíbrio espiritual com o
mundo. A fórmula para se chegar a esse equilíbrio é ser feliz, não ser
derrotado nunca, não sofrer perdas materiais. Tudo isso deve ser feito
enquanto estamos vivos. Depois da morte, seremos o que fomos e nada
mais, não importa.E não pode existir equilíbrio sem o culto ao orixá, pois somos uma
infinitésima parte dele.
Pesquisa: Verger, Bastide e outros autores
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