LENDAS  DE OGUM(1)
Ogum mata seus súbditos e é transformado em Orixá.
Ogum, filho de Odudua, sempre guerreava, trazendo o fruto da vitória  para o reino de seu pai. Amante da liberdade das aventuras amorosas, foi  com uma mulher chamada Ojá que Ogum teve seu filho Oxossi. Depois amou  Oiá, Oxum e Obá, as três mulheres de seu rival, Xangô. Ogum seguiu  lutando e tomou para si a coroa de Irê, que na época era composto de  sete aldeias. Era conhecido como o Onirê, o rei de Irê, deixando depois o  trono para seu próprio filho.
Ogum era rei de Irê, Oni Ire, Ogum Onirê. Ogum usava a coroa sem franjas  chamada acorô. Por isso também era chamado de Ogum Alacorô. Conta-se  que, tendo partido para a guerra, Ogum retornou a Ire depois de muito  tempo. Chegou num dia em que se realizava um ritual sagrado. A cerimônia  exigia a guarda do silêncio total. Ninguém podia falar com ninguém.  Ninguém podia dirigir o olhar para ninguém.
Ogum sentia sede e fome, mas ninguém o atendia. Ninguém o ouvia, ninguém  falava com ele. Ogum pensou que não havia sido reconhecido. Ogum  sentiu-se desprezado. Depois de ter vencido a guerra, sua cidade não o  recebia. Ele, o rei de Ire! Não reconhecido por sua própria gente!  Humilhado e enfurecido, Ogum, com sua espada em punho, pôs a destruir  tudo e a todos. Cortou a cabeça de seus súditos. Ogum lavou-se com  sangue. Ogum estava vingado. Então a cerimônia religiosa terminou e com  ela a imposição de silêncio foi suspensa.
Imediatamente o filho de Ogum, acompanhado por um grupo de súditos,  ilustres homens salvos da matança, veio à procura do pai. Eles renderam  as homenagens devidas ao rei e ao grande guerreiro Ogum. Saciaram sua  fome e sua sede. Vestiram Ogum com roupas novas, cantaram e dançaram  para ele. Mas Ogum estava inconsolável. Havia matado os habitantes de  sua cidade. Não se dera conta das regras de uma cerimônia tão importante  para todo o reino. Ogum sentia que já não podia ser o rei. E Ogum  estava arrependido de sua intolerância, envergonhado por tamanha  precipitação. Ogum fustigou-se dia e noite em autopunição.
Não tinha medida o seu tormento, nem havia possibilidade de  autocompaixão. Ogum então enfiou sua espada no chão e num átimo de  segundo a terra se abriu e ele foi tragado solo abaixo. Ogum estava no  Orum, o céu dos deuses. Não era mais humano. Tornara-se um orixá.
(2)
Ogum dá aos homens o segredo do ferro.
Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos  trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando  frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole, por isso o  trabalho exigia grande esforço.
Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa, era  necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para  decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área  da lavoura.
Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno,  mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo  modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram um por um e fracassaram  na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então,  quando todos os outros orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão,  de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os orixá, admirados,  perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão, Ogum  respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orunmilá.
Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à  agricultura, mas como à caça e até mesmo à guerra. Por muito tempo os  orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele  mantinha o segredo só para si.
Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele  lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente, Ogum aceitou a  proposta. Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do  ferro, e Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo  caçador e todo guerreiro tiveram suas lanças de ferro.
Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais  nada ele era um caçador, certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos  dias fora numa difícil temporada, quando voltou da mata, estava sujo e  maltrapilho. Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado,  eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado.
Ogum se decepcionou com os orixás, pois, quando precisaram dele para o  segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de  governá-los, então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira  desfiadas, pegou suas armas e partiu, num lugar distante chamado Irê,  construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu.
Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram.  Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum. Caçadores,  guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de  Ogum.
(3)
Ogum é o senhor do ferro para sempre.
Orixá Ocô cria a agricultura com ajuda de Ogum.
No princípio, havia um homem que se chamava Ocô, mas Ocô não fazia nada o  dia todo, não havia o que fazer, simplesmente. Quando os alimentos na  Terra escassearam, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações, que  plantassem inhame, pimenta, feijão e tudo mais que os homens comem.
Ocô gostou de sua missão, ficou todo orgulhosos, mas não tinha a menor  idéia de como executá-la, até que viu, debaixo de uma palmeira, um rapaz  que brincava na terra, com um graveto ele revolvia a terra e cavava  mais fundo, Ocô quis saber o que fazia o rapaz. “Preparando a terra para  plantar, para plantar as sementes que darão as plantas”, explicou o  rapaz de pele reluzente. “Que sementes, se nem plantas ainda há?”,  perguntou, incrédulo, Ocô. “Nada é impossível para Olodumare”, foi a  resposta.
Começaram então a cavar juntos a terra, o graveto que usavam como  ferramenta quebrou-se e passaram então a usar lascas de pedra, o  trabalho, entretanto, não rendia e Ocô saiu a procura de alguma maneira  mais prática.
Outro dia, quando Ocô voltou sem solução, o rapaz tinha feito fogo,  protegendo-o com lascas de pedra, viram então que a pedra se derretia no  fogo. A pedra líquida escorria em filetes que se solidificavam. “Que  ótimo instrumento para cavar!”, descobriu efusivamente o inventivo  rapaz. Ele pôde então usar o fogo e fazer lâminas daquela pedra, e  modelar objetos cortantes e ferramentas pontiagudas.
Ele fez a enxada, a foice e fez a faca e a espada e tudo o mais que  desde então o homem faz de ferro para transformar a natureza e  sobreviver. O rapaz era Ogum, o orixá do ferro. Juntos resolveram a  terra e plantaram e os alimentos foram abundantes.
E a humanidade aprendeu a plantar com eles, cada família fez a sua  plantação, sua fazenda, e na Terra não mais se padeceu de fome, e Ocô  foi festejando como Orixá Ocô, o Orixá da Fazenda, da plantação, pois  fazenda é o significado do nome Ocô.
E Ogum e Orixá Ocô foram homenageados e receberam sacrifícios como os  patronos da agricultura, pois eles ensinaram o homem a plantar e assim  superar a escassez de alimentos e derrotar a fome.
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